MC 01: Como estudar as trajetórias de personagens negros(as) nas cidades do interior da Bahia? um estudo teórico-metodológico sobre trajetórias, narrativas e fontes históricas.
Local e horário: Dias 5, 6 e 7 no Auditório 1 do Pavilhão Thales de Azevedo, das 9h às 11h.
Ministrado por: Jaques Leone Matos de Oliveira (Mestre em História Social pela UFBA) e Lucymara Carvalho (Doutoranda na História Social pela UFBA)
Este minicurso oferece uma introdução prática e teórica às metodologias e fontes históricas utilizadas no rastreamento e estudo de personagens históricos negros(as) nas cidades do interior da Bahia, sobretudo entre o final do século XIX e início do século XX. Serão abordados temas como a identificação e análise de fontes primárias e secundárias, incluindo registros paroquiais, documentos de cartórios, fotografias, inventários post-mortem, jornais, relatos orais e documentos privados. Além disso, o curso discutirá as técnicas de crítica documental e os desafios de se pesquisar personagens marginalizados na historiografia tradicional utilizando-se para tal fim, das análises realizadas por teóricas feministas negras estadunidenses e brasileiras. Os participantes serão incentivados a desenvolver habilidades práticas através de exercícios de análise de documentos históricos e a refletir sobre as implicações sociais e culturais da inclusão dessas narrativas na história regional, a partir do cruzamento das categorias analíticas de raça, classe e gênero.
A invisibilidade histórica das populações negras, especialmente em áreas interioranas, é uma questão crítica que necessita ser abordada para construir uma historiografia mais inclusiva e representativa. Este minicurso é justificado pela urgência de capacitar pesquisadores, estudantes e profissionais da área de História a utilizar metodologias apropriadas para o resgate dessas trajetórias. A Bahia, com sua complexa história de formação étnica e cultural, é um campo rico para esse tipo de investigação, especialmente em suas cidades do interior, onde as fontes podem ser menos acessíveis e mais dispersas. Preparar os(as) participantes com as ferramentas necessárias para localizar e interpretar essas fontes históricas não apenas enriquece o campo da história local e regional, mas também contribui para a valorização das trajetórias de vida dos personagens negros e negras, frequentemente marginalizados(as). Este minicurso, portanto, objetiva promover a construção de uma memória coletiva múltipla, fortalecendo assim a identidade cultural baiana e brasileira ao reconhecer a importância dos indivíduos negros(as) na formação da nossa sociedade.
Referências bibliográficas
ALVES, Adriana Dantas Reis. As mulheres negras por cima. O caso de Luzia jeje. Escravidão, família e mobilidade social - Bahia, c. 1780 - c. 1830, Tese (Doutorado em História) −Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, UFF, Niterói, 2010.
CARVALHO, Lucymara S. “Puta só, homem só”: relações familiares, memória e cotidiano das mulheres negras prostitutas de Feira de Santana-BA (1940-1960) - Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Feira de Santana. Programa de Pós-Graduação em História, 2022.
CARDOSO, Claudia. P. Amefricanizando o feminismo: o pensamento de Lélia Gonzales. Estudos Feministas, Florianópolis, 22(3): 965-986, setembro-dezembro/2014.
CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 3º edição. Tradução de Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis. Vozes, 1998.
COLLINS, P. H. Aprendendo com a outsider whithin: a significação sociológica do pensamento feminista negro. Sociedade e Estado, Brasília, v. 31, n. 1, p. 99-127, jan/abr. 2016.
CRENSHAW, Kimberlé. Documentos para o encontro de especialistas em aspectos da discriminação racial relativos ao gênero. Revista Estudos Feministas. Ano 10, 1º semestre, 2002.
DAMASCENO, Karine Teixeira. Para serem donas de si: mulheres negras lutando em família (Feira de Santana-Bahia, 1871-1888). Tese: (Doutorado) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em História, Salvador, 2019.
GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Classes, raças e democracia. São Paulo: Editora 34, 2002.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. Paris: PUF, 1968.
MORAES, E. L.; SILVA, Lúcia Isabel. Feminismo negro e a interseccionalidade de gênero, raça e classe. Cadernos de estudos sociais e políticos, v. 7, p. 58-75, 2017.
OLIVEIRA, Jaques L. M de. “O sol da fraternidade rasgou a treva das senzalas”: Memória da escravidão e da abolição no jornal Folha do Norte (1909-1933 - Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia. Programa de Pós-Graduação em História, 2023.
SAMPAIO, Gabriela dos Reis; LIMA; Ivana Stolze; BALABAN, Marcelo (orgs.). Marcadores da diferença: raça e racismo na história do Brasil. Salvador: EDUFBA, 2019.
SANCHES, Maria Aparecida Prazeres. As Razões do Coração: Namoro, escolhas conjugais, relações raciais e sexo-afetivas em Salvador (1889/1950). Tese de Doutorado. Niterói, UFF, 2010.
SANTA BÁRBARA, Reginilde R. O caminho da autonomia na conquista da dignidade: sociabilidades e conflitos entre lavadeiras em Feira de Santana – Bahia (1929-1964). Dissertação (Mestrado em História) − Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal da Bahia, UFBA, Salvador, 2007.
SANTANA, Keilane S. Trajetórias de Empregadas Domésticas em Feira de Santana (1883-1932). Dissertação (mestrado) Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2017.
SANTOS, Mayara Priscilla de Jesus dos. Maria Odília Teixeira: a primeira médica negra da Faculdade de Medicina da Bahia (1884- 1937). Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Salvador, 2019.
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade. Porto Alegre, n.22, jul/dez 1990.
SILVA, Diego Lino. As senzalas da cidade: relações raciais entre negros roceiros (Bahia, 1940-1960). Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Feira de Santana. Programa de Pós-Graduação em História, 2021.
SOARES, Cecilia Moreira. Mulher Negra na Bahia no século XIX. Salvador: EDUNEB, 2007.
SOIHET, Raquel. Condição feminina e formas de violência: mulheres pobres e ordem urbana. 1890-1920. Rio de Janeiro: Forense universitária, 1989.
VEIGA, Ana Maria. Uma virada epistêmica feminista (negra): conceitos e debates. Tempo e Argumento, v. 12, p. 1-32, 2020.